PARTE III
O caso Clóvis
- 1961 – Santa Quitéria
Relatório
misto de possíveis testemunhas do homicídio. Redator: Jhonas Tobkan
Clóvis era um sujeito normal. Levava muito bem a sua pacata vida de colhedor
de cana na cidade de Januário do Sul. Era um homem honesto e muito admirado
pelos parentes e colegas de profissão. Sua humildade assombrava seus amigos
mais íntimos que até buscavam aconselhá-lo a ser mais firme, mais rude,
preservar seus “colhões”. Sua estatura era padrão, com um metro e setenta e
dois de altura pesando 72 quilos, não era nenhum homem gigante que botasse medo
em algum valentão.
Em uma noite de sexta-feira, Clóvis voltava do bar para sua casa, com
um elevado grau de embriaguez. Depois de uma festa entre amigos no boteco “Caneca
Azul”, ele foi surpreendido. Clóvis foi abordado por três assaltantes armados
até os dentes. Os delinqüentes possuíam facas, canivetes e o último, parecendo
o manda-chuva, portanto um facão caseiro. O facão do indivíduo era monstruoso,
gigantesco, lembrava uma foice. A rua neste momento estava deserta. Clóvis não
teve escapatória. Um dos malfeitores, com uma faca extremamente pontiaguda,
entretanto muito pequena, perfurou o seu pulmão direito duas vezes com uma
força colossal.
A vítima gemeu baixo. Suas pernas amoleceram, sua respiração no mesmo
momento ficou ofegante, então grunhiu silenciosamente. Após ele se ajoelhar ao
chão, ele é golpeado com uma força brutal, o rapaz mais raquítico do bando
desfere um soco de mão cheia em sua face. Clóvis já parecia que não sentia dor
alguma. Novamente o magrinho prepara nova bofetada na cara do pobre homem,
porém é impedido pelo grandão do bando. O manda chuva, com sua careca
brilhante, ante a luz fraca de um pequeno poste de luz tímida, solta um grito
estrondoso, levanta seu facão majestoso e com apenas um golpe, decepa o braço
direito de Clóvis. No exato momento que o braço dele cai no chão, ele desmaia.
Os três sacanas começam a rir sem parar. Até que o grandão manda todos
calarem a boca. Cospe no rosto de Clóvis e pisa em seu ombro com muita força,
estancando o enorme fluxo de sangue. Abaixa-se por um momento, e passa com toda
leveza o seu facão sobre o peito sangrento de Clóvis. Ele ainda podia ouvir os
seus batimentos cardíacos, algo que ele não suportava. Segurou o facão com as
duas mãos, ergue com lentidão magistral o objeto até sua nuca, apreciando todo
aquele líquido vermelho escorrendo pelas entranhas daquele ser. Em um estampido
único e mortal, desce com uma velocidade abominável seus punhos em direção a
boca de Clóvis. Levanta-se com o facão ainda cravado no crânio de sua vítima e
puxa de maneira melosa, apreciando novamente o beiço de Clóvis partindo ao
meio. O raquítico chama a atenção do grandão, avisando para que ele tire os
pedaços de carne que vieram junto com o facão na puxada, pois ali dava para
observar três dentes que ficaram pendurados. O chefe obedece e diz estar já
muito cansado. Aglomeram-se e saem correndo no meio de um mato.
No outro dia pela manhã, a vizinhança sente um odor estranho no
ambiente, e Josué encontra o corpo de Clóvis próximo de uma esquina. Liga
imediatamente para as autoridades, que encaminham uma unidade do I.M.L. Ficam
boquiabertos com a cena, entretanto cumprem naturalmente com o seu serviço.
Documento
654b12. Fechado para arquivo. Delegado Rui Brandão 13, fevereiro, 1962.
Toni tinha certeza, era Clóvis o assassino das garotas, as semelhanças
do assassinato das moças com a maneira que Clóvis morreu eram impressionantes.
O que ele concluiu é um possível retorno, quatro décadas depois, da alma de
Clóvis vindo vingar a sua morte. Mas não sabe o porquê, o motivo dessa alma,
ter mutilado duas garotas inocentes. Volta para seu abrigo todo preocupado com
as coerências da nova descoberta. Ele havia descoberto o que acontecera naquela
triste noite na Rua Guilherme Weight.
Agora ele precisava agir, o que fazer?
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