segunda-feira, 24 de março de 2014

O Capitão Drogado


O Capitão Drogado
Primeiramente preciso me identificar, sou o capitão de um barco imenso, o chamo de: Vida. Nesse momento, estou obcecado por uma ilha. Conquistar essa ilha é o meu sonho, mas parece que tudo está se encaminhando para um pesadelo. Essa ilha é uma menina linda que me dopa e deixa-me de uma maneira fora de si. É o maior mistério que já vi como capitão deste navio. Vejamos a minha história.
 Essa ilha é minha droga! Ela me alucina e me deixa extasiado. Iludindo-me com palavras vagas que não correspondem as suas atitudes. Isto está me fazendo um mal tão grande, que tenho medo que num futuro próximo não tenha mais conserto. Vejo um furo imenso se formando no meu peito e uma clara imagem de que eu não consiga confiar em mais ninguém. Mas eu quero muito ver o vulcão ativo desta ilha. Fico pensando a todo o momento se não seria esse o instante de abandonar o navio e partir para outra jornada.
Saltar da proa, pular em um barquinho leve e aproveitar de vez essa vida como a maioria faz, mas droga! Detesto agir como a maioria. Entretanto, é como se eu estivesse atracado em uma praia maravilhosa e uma âncora gigantesca estivesse me ligando a você.  Nessa praia eu posso ter a mais bela paisagem que um humano pode avistar: Uma ilha linda, frágil por fora, mas extremamente forte por dentro. Com seus diversos mistérios ainda inexplorados, uma ilha de formação recente que necessita de apoio para ter ser talento real exposto. Ah, como queria ser o explorador dessa ilha. Mas ficar nessa praia também tem suas desvantagens, pois tormentas de silêncio e dúvidas inesperadamente aparecem para me tirar o calma.
Cuidar dessa Ilha como o mais nobre e profissional jardineiro cuida de suas flores. Bem como com a maestria de um maestro de orquestra, ouvir os cantos de seus pássaros e poder retribuir com minhas experiências. Tudo isso baseado na remota esperança de que estou certo que ainda existe o amor perfeito entre dois seres. Pergunto aos amigos marinheiros coisas sobre meus sentimentos, de um capitão solitário aparentemente forte por fora, mas um homem franzino emocionalmente por dentro. Sempre fingindo estar bem, como se estivesse usando uma máscara para disfarçar a dor.  A maioria desses meus companheiros falam que sou um tolo por pensar assim. Deixar passar tantas oportunidades que surgem por apenas uma Ilha. “Olha o tamanho do mundo e quantas belas ilhas inexploradas têm por aí para serem conquistadas, capitão! Acorda para vida e vai viver!”. Ouço isso, mas não consigo escutar... Essa Ilha é um mistério muito maior que o caso do “Triângulo das Bermudas”. É nessa ilha que quero habitar.
Eu e ela, uma só forma. Uma só sintonia. Mas vejam só que ironia. Encostei meu pequeno barco de mansinho na beira da praia, aos poucos fui conhecendo seu litoral. Tomei coragem e adentrei em suas matas, vi seus animais, suas cachoeiras, riachos e vegetação típica. Quando me infiltrei ao centro da Ilha me deparei com um imenso vulcão. Não via a hora de observa-lo ativo. Fui imediatamente ao topo do mesmo, mas para meu espanto, o vulcão estava adormecido. Lá no fundo apenas se via leves fagulhas de lavas que pulavam em ritmos lentos. Parecia que os pingos sorriam para mim no momento que expiravam nas laterais do vulcão. Isso me deixou entristecido.
Lá do alto, observando uma gaivota plainar em câmera lenta até a praia lá em baixo, lembrei-me de meus companheiros me dizendo para procurar novos horizontes. E com inevitáveis lágrimas no rosto, observando que nessa ilha não haveria erupção, deixei minha cabeça para linha do horizonte.  Lá do topo do vulcão, para meu espanto, tive uma surpresa. O mar havia ficado estranhamente pequeno e infestado de diversas outras Ilhas, todas maravilhosas. Então me pergunto como não havia visto isso antes? Por que estava teimando tanto em uma ilha que não está nem aí para mim?
Meus olhos se fecham, fico tonto e cambaleante. Na beirada do vulcão fico rodopiando lentamente. Por fim, caio dentro do vulcão. A queda parece que dura um século. Um frio corre deste a ponta dos meus pés até o córtex cerebral, estou congelando por inteiro. Quando finalmente estou para me chocar com a lava branda lá em baixo, eis que me acordo num sobressalto. Estou no porão do meu barco, deitado em cima de sacas de café Porto Bello. Ao meu lado a foto de uma linda menina sorrindo. A real droga que me faz pensar e imaginar tantas coisas assim. Alucinações?.
Sou apenas o capitão drogado, que não consegue mudar a direção desse maldito leme que está travado ainda naquela ilha. E como todo bom drogado, não queria perder o vício, mas gostaria de saber se aquela Ilha um dia vai me aceitar e me mostrar o seu interior. Pois para mim, uma Ilha vulcânica sem erupções é como uma vida sem emoções. Não vale a pena ser vivida.
Por fim levanto-me, passo na adega e pego mais uma garrafa de rum. Subo até o convés e sento-me em uma cadeira de madeira velha. Começo a ver o que está em torno de mim. Vejo que estou completamente sozinho nesse barco. A vida é assim. Do nada vejo algo extremamente longe brilhar. Com a rapidez de uma fera predadora, pego o binóculo que estava jogado ao meu lado e, olhando na linha do horizonte, inacreditavelmente eu enxergo lá no fundo... Uma ilha. A Ilha dos meus sonhos.

Resolvo tomar uma atitude. Jogo fora a garrafa de rum, já vazia é claro e decido me mover. Mas agora, diferente do meu sonho, não vou navegar até lá. Sairei do meu navio seguro e confortável, sim. Todavia, apenas levantarei as velas do meu pequeno barquinho e deixarei o vento me levar. Seja para essa fantástica Ilha, seja em outras que eu encalhar.

Jeferson K. - 23/03/2014